Papa Francisco: o legado ecológico do pontífice que defendeu a Casa Comum

Falecido aos 88 anos, o pontífice argentino uniu a missão espiritual da Igreja à urgência ambiental, deixando um impacto duradouro na proteção do meio ambiente e dos povos tradicionais

O Papa Francisco, falecido na última segunda-feira (21), deixa um dos legados mais marcantes da história recente da Igreja Católica. Em 12 anos de pontificado, ele manteve a questão ambiental no centro das discussões, tornando-se uma forte voz na defesa da natureza e das populações tradicionais.

O marco inicial desse compromisso pastoral veio em 2015, com a publicação da encíclica Laudato Si’: Sobre o Cuidado da Casa Comum. No documento, Francisco denuncia a cultura do descarte, o consumismo exacerbado e o impacto devastador da ação humana sobre o planeta. Propõe, como resposta, uma “ecologia integral”, que une a preocupação ambiental à justiça social. Como afirmou no parágrafo 139 da encíclica, “não há duas crises separadas: uma ambiental e outra social, mas uma única e complexa crise socioambiental”.

O olhar voltado para a Amazônia

Em 2019, o Papa deu mais um o importante ao convocar o Sínodo dos Bispos para a Região Pan-Amazônica, realizado no Vaticano. Durante o evento, representantes indígenas, cientistas e líderes religiosos discutiram a destruição ambiental, o impacto sobre os povos originários e o papel da Igreja na promoção de uma presença mais solidária e respeitosa na floresta.

O encontro resultou na exortação apostólica Querida Amazônia (2020), na qual Francisco delineou “quatro sonhos para a Amazônia: social, cultural, ecológico e eclesial”, conforme registrado nos parágrafos 7 e 8 do documento. Nele, defende os direitos dos povos indígenas, a preservação da biodiversidade e o combate ao extrativismo predatório.

Um chamado global

O compromisso ecológico de Francisco ultraou as fronteiras da Igreja. O Papa participou ativamente de cúpulas internacionais sobre o clima e apoiou acordos ambientais, como o Acordo de Paris, adotado em dezembro de 2015. Sua atuação foi decisiva para legitimar a pauta ambiental também no campo religioso, inspirando iniciativas como o Movimento Laudato Si’, que reúne católicos em ações práticas de cuidado com o planeta.

Em 2023, Francisco voltou a aprofundar essa temática com a exortação apostólica Laudate Deum, na qual advertiu sobre a insuficiência das ações políticas e econômicas para enfrentar a crise climática e reiterou que o cuidado com a criação é inseparável da dignidade humana e da solidariedade entre as nações. A Laudate Deum reforçou que a mudança climática é um problema global que exige responsabilidade ética, espiritual e política, e que “ninguém se salva sozinho”.

O legado de Francisco moldou de forma irreversível o modo como a Igreja se posiciona diante dos grandes desafios ecológicos do século XXI. Ao fazer do cuidado com a criação uma expressão concreta da fé cristã, o Papa deixou uma marca que transcende seu tempo — um testemunho de esperança para as futuras gerações.

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Felipe Moura

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